O voluntariado não me é estranho desde os 19 anos, muitas vezes o pus em causa assim como fui pondo a minha fé católica pois estiveram invariavelmente ligados. Comecei em 2001 nos Hospitais da Universidade de Coimbra no serviço de Hematologia onde não consegui aguentar a naturalidade de sorrisos em situações tão difíceis e circunstâncias tão dolorosas pensando muitas vezes que se fosse eu a estar naquela situação difícilmente teria a dignidade de muitas daquelas ainda crianças, pedi então para mudar e passei para o serviço de Gastrologia onde fiquei durante um ano e meio e onde aprendi a encarar o voluntariado não como coisa de pessoas boazinhas que se atravessam pelos outros mas sim como uma expressão da cidadania do civismo e da participação. Depois de um interregno dedicado às causas políticas decidi ir para os Açores desta vez fazendo um outro tipo de voluntariado, desenvolver uma ideia do P. Paulo Teia (jesuíta)a pôr em prática o projecto «Rabo de Peixe sabe sonhar», que tem a sua expressão mais visível numa colónia de férias em que participam 200 crianças, mas que implica um trabalho impressionante, durante todo o ano, de proximidade, de apoio concreto de humanização profunda de uma comunidade profundamente desumanizada. Havia crianças em Rabo de Peixe sem refeições regulares, desconhecendo o que são talheres ou uma escova de dentes e, que por negligência dos pais, não vão à escola nem usufruem dos cuidados médicos mais elementares. Foi dos projectos que me deu mais gozo em toda a minha vida e que abandonei mais uma vez por causa do Senado da Universidade, mantendo só o projecto do Centro Educatvo dos Olivais onde era catequista a pedido de jovens reclcusos queriam fazer a Profissão de Fé e o Crisma uma experiência que mais uma vez alterou a minha percepção e me levou a nunca mais fazer julgamentos fáceis e gratuitos. Com Lisboa e o início de um projecto empresarial (que não correu bem) afastei-me do voluntariado estando só agora de volta e este é um projecto diferente de todos os outros que concerteza me vai acrescentar e mudar, tal como todos os outros. Este é um projecto desenvolvido na Paróquia de Santa Isabel, que consiste em oferecer uma ceia composta por sopa, prato, fruta e café ou chá. Abrirá as portas para acolher todos a seguir à Missa das 19h30 e fechará às 22 horas. A ceia é gratuita funcionando com voluntários que ficarão distribuídos por tarefas várias como seja a recolha de géneros pelas mercearias da zona, a confecção da comida, o serviço das mesas, o tirar cafés, a limpeza, a arrumação da Sala Alberto Lourenço. Esta refeição não se destina a niguém em concreto, mas a todos que por um outro motivo possam em dada altura não ter outra forma de comer uma refeição.
Comecei agora com o sentido que deveria ter começado há mais tempo, mas acho que vai correr muito bem.
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