Não sei quem é o "me" mas respondeu de forma muito sustentada e pertinente ao apontamento demagógico do Nuno Ramos de Almeida. Aqui fica a resposta:
Comentário de /me
Data: 22 de Maio de 2010, 14:19
Quando andava na escola, pouco se falava em “gays”. Havia as piadolas, o chamar paneleiro a este ou aquele, mas a brincar a brincar passava-se a imagem de gay=coisa má. Nunca se falava seriamente. Pelo contrário, o assunto era tabu. Os jovens que então se descobrissem atraídos por pessoas do mesmo sexo não tinham qualquer referência positiva.
Felizmente, houve quem desse a cara. E não foi coisa pouca, a capacidade de publicamente defender os homossexuais e de obrigar as pessoas a sairem da sua postura de varrer a discussão da homossexualidade para baixo do tapete, como coisa desagradável a ser evitada a todos os custos. Quem deu a cara, seguramente pagou um preço por isso. E eu, estou grato.
Como em todos os movimentos, há e sempre houve várias correntes. No movimento LGBT, definiu-se (não só em Portugal!) o casamento como uma prioridade. Por motivos óbvios, parece-me: por ser a luta contra uma discriminação legal. Muitas mais discriminações resistem, mas que estejam respaldadas na legalidade é algo que custa muito mais a aceitar. Pessoas como o Miguel Vale de Almeida fizeram por alcançar o objectivo do casamento para todos. Pouca coisa, talvez, para algumas pessoas da “malta dos anos 60″? O movimento LGBT não é refém de ideologias temporais, soma pessoas de “different walks of life” (como era moda dizer até há pouco tempo). Entre essas, alguns acharam o casamento uma conquista marcante, em troca do qual se poderia (para já) sacrificar algumas coisas. É assim, na política, fazem-se compromissos. “A malta dos anos 60″ talvez não os fizesse, mas se calhar se contasse apenas com eles não me poderia hoje casar, se quisesse.
A quem devo estar grato? Aos que querem lutar “pela defesa das condições sociais de todas e de todos os portugueses, nomeadamente dos homossexuais”, ou a quem conseguiu que eu me pudesse casar? Provavelmente aos dois, mas quem conseguiu algum resultado foram os segundos. E há, na vida portuguesa e na luta LGBT, um pré e um pós casamento. Não é justo julgar o Miguel Vale de Almeida (e o mainstream LGBT) sem ver o que ele fará no pós casamento, na luta por mais justiça. Mas se for para o julgar já, então teve uma excelente contribuição, derrubando uma discriminação legal. Manteve-se outra, é certo, que já lá estava. Culpamos por isso a orientação do mainstream LGBT?
Um bocado de humildade era bom. Um espírito de trincheiras, divisionista e crítico sem oferecer uma alternativa credível não ajuda nada. O mainstream LGBT definiu um objectivo e conseguiu-o. Por esse motivo deve ser parabenizado. É verdade que o mainstream LGBT deve definir outro objectivo e lutar por ele. Tal não vai ser conseguido com posts destes, de crítica sem apontar caminhos.
Seja como for, o casamento é importante. É muito importante. Talvez não seja para um soixante-huitard, mas é-o para muitas pessoas. E se é para muitas pessoas, é-o para a sociedade. Há que ter empatia para perceber isso.
Data: 22 de Maio de 2010, 14:19
Quando andava na escola, pouco se falava em “gays”. Havia as piadolas, o chamar paneleiro a este ou aquele, mas a brincar a brincar passava-se a imagem de gay=coisa má. Nunca se falava seriamente. Pelo contrário, o assunto era tabu. Os jovens que então se descobrissem atraídos por pessoas do mesmo sexo não tinham qualquer referência positiva.
Felizmente, houve quem desse a cara. E não foi coisa pouca, a capacidade de publicamente defender os homossexuais e de obrigar as pessoas a sairem da sua postura de varrer a discussão da homossexualidade para baixo do tapete, como coisa desagradável a ser evitada a todos os custos. Quem deu a cara, seguramente pagou um preço por isso. E eu, estou grato.
Como em todos os movimentos, há e sempre houve várias correntes. No movimento LGBT, definiu-se (não só em Portugal!) o casamento como uma prioridade. Por motivos óbvios, parece-me: por ser a luta contra uma discriminação legal. Muitas mais discriminações resistem, mas que estejam respaldadas na legalidade é algo que custa muito mais a aceitar. Pessoas como o Miguel Vale de Almeida fizeram por alcançar o objectivo do casamento para todos. Pouca coisa, talvez, para algumas pessoas da “malta dos anos 60″? O movimento LGBT não é refém de ideologias temporais, soma pessoas de “different walks of life” (como era moda dizer até há pouco tempo). Entre essas, alguns acharam o casamento uma conquista marcante, em troca do qual se poderia (para já) sacrificar algumas coisas. É assim, na política, fazem-se compromissos. “A malta dos anos 60″ talvez não os fizesse, mas se calhar se contasse apenas com eles não me poderia hoje casar, se quisesse.
A quem devo estar grato? Aos que querem lutar “pela defesa das condições sociais de todas e de todos os portugueses, nomeadamente dos homossexuais”, ou a quem conseguiu que eu me pudesse casar? Provavelmente aos dois, mas quem conseguiu algum resultado foram os segundos. E há, na vida portuguesa e na luta LGBT, um pré e um pós casamento. Não é justo julgar o Miguel Vale de Almeida (e o mainstream LGBT) sem ver o que ele fará no pós casamento, na luta por mais justiça. Mas se for para o julgar já, então teve uma excelente contribuição, derrubando uma discriminação legal. Manteve-se outra, é certo, que já lá estava. Culpamos por isso a orientação do mainstream LGBT?
Um bocado de humildade era bom. Um espírito de trincheiras, divisionista e crítico sem oferecer uma alternativa credível não ajuda nada. O mainstream LGBT definiu um objectivo e conseguiu-o. Por esse motivo deve ser parabenizado. É verdade que o mainstream LGBT deve definir outro objectivo e lutar por ele. Tal não vai ser conseguido com posts destes, de crítica sem apontar caminhos.
Seja como for, o casamento é importante. É muito importante. Talvez não seja para um soixante-huitard, mas é-o para muitas pessoas. E se é para muitas pessoas, é-o para a sociedade. Há que ter empatia para perceber isso.
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