Acordo com a merda do despertador a exigir-me que seja responsável e que me levante. Detesto moralistas. Levanto-me ainda perdido e estremunhado com tal selvajaria e encaminho-me para a casa de banho. Chego lá com alguns hematomas fruto do enxerto de porrada que a mobília me decidiu dar. Ligo o rádio que deveria estar sintonizado na marginal a única rádio aceitável para se ouvir de madrugada (são 8h30min.), mas não está. Apanho com uma senhora, que pela boa disposição e riso descontrolado me leva a desconfiar da sua sanidade, que insiste para lhe ligar e dar a minha opinião sobre o concerto dos Trovante que não vi. Ainda não consigo abrir os olhos quanto mais emitir uma opinião. Mudo de estação e sintonizo com alguma dificuldade a rádio Marginal. Assim que ponho um pé banheira, pimba, interferência, e passo de uma música matinalmente aceitável para um ruído que fará explodir o meu frágil cérebro numa pasta cinzenta. Retiro o pé da banheira e volta a música, ponho o pé regressa o ruído. Chateado com esta dança decidi cortar o mal pela raíz e desligar a telefonia. Agora já todo na banheira e com água a começar a escorrer-me pelo corpo, lembro-me que deveria ter ajustado a temperatura no esquentador, a que ontem baixei a temperatura para lavar a loiça, já não consigo voltar a sair para regular o animal supostamente inteligente, sujeitando-me a uma água tépida, quando a única coisa que me deixa feliz a estas bárbaras horas é água bem quente em cima de mim. Acabada a higiene geral começo a secar-me com uma toalha húmida, que mais uma vez por esquecimento, não pus a secar ontem à noite. Em vez de me sentir seco, sinto-me lambido. Desodorizante. Pentear o cabelo que insiste numa permanente revolta apesar de ser cada vez menos, assim mais ou menos como a FER. Perfume. Cuecas. Meias. Calças. E estou sem camisas passadas. Páro e reflicto nas opções: uma de manga curta com florzinhas, muito gira mas era preciso ser um gajo cheio coragem para ir passear as florzinhas com um fato para o escritório, e eu não sou, uma beije mas de um tecido que eu não sei o nome, mas que se usava muito nos anos 70, ou uma azul que não era minha e onde, apesar de tudo, cabem dois de mim? Opto pela azul debaixo do blazer acho que ninguém nota. Já cansado com tanta decisão vou buscar os sapatos que precisavam de uma boa engraxadela, mas já não consigo. Pego num spray onde leio, na vertical como o Prof. Marcelo, impermeabiliza, reveste e película parece-me num acesso que aquelas três palavras ressuscitarão os meus sapatos. Pareceu-me mal. De castanhos os sapatos passam a preto. Resigno-me. Pego na mala, óculos de sol e carteira encho-me de coragem e saio. Cá fora caio logo na emboscada do meu arqui-inimigo das manhãs, o sol, e tal qual a kriptonite sinto os meus poderes a desvanecerem-se. Chego ao café da esquina onde me junto aos outros vampiros e sugo com muita vontade a minha bica. Saio e começo a andar para o trabalho, mas já estou atrasado e exausto, olho e vejo o meu único consolo das manhãs. Um táxi.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
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