terça-feira, 18 de maio de 2010

Um pai

Não o conheci, apenas o ouvi, e não nas palavras dele. Contaste-me a vossa terra de imaginação, como acreditavas na vossa casa e no vosso chão. Os campos de esparguete que ansiavas ver mas não descobrias, não descobrias mas acreditavas, uma Tróia onde entrou um cavalo que não ficava no mediterrâneo, mas já ali tão perto pra os lados de Setúbal, e tu acreditavas, os snipers escondidos num jogo do beira-mar, das conversas diàrias que começavam sempre pelo estado do tempo e tu acreditavas. Esse foi o tempo da tua primavera. Não o conheci, apenas o imagino, imagino um homem que gostava das coisas boas da vida, o prazer dos livros, dos cigarros, das ideias, de um copo do whisky e a cima de tudo de uma boa conversa. Para quem as coisas práticas da vida foram uma maçada com que teve de lidar, pois tinha a noção da efemeridade e decidiu investir em coisas que importam como fazer-vos sentir protegidas e amadas como se ele próprio fosse uma casa sempre com a lareira acesa e um forte cheiro a chocolate. Depois veio o Inverno. A primavera não voltará. Um dia chegará o Outono em que começarás a pensá-lo, a lembrá-lo,à mesa, sentado no seu lugar onde te contava as histórias verdadeiras em que ainda hoje ousas acreditar e perceber que foi dele que herdaste essa ousadia, essa esperança de acreditar, o sentido de sonhar e a cima de tudo deixou-te a maior fonte de felicidade humana: a imaginação.

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