terça-feira, 7 de junho de 2011

Carta de despedida - Coimbra 2006

Coimbra 2006

Aqui olhando o mundo que corre lá fora és tu a matéria que ilumina os meus olhos. Nesta Coimbra que já se me torna fugaz e da qual só voltarei a encontrar encanto quando olhar em redor e o vazio se apoderar de mim.


Aqui fui construindo bocados de mim, aprendi a sorrir, como aprendi a literatura, a chorar, a investigar e a politizar. Aprendi o valor de uma comunidade, onde não pertenci, foi um outro que pertenceu, agora que parto sinto que ninguém me conheceu. O menino inseguro e frágil continuou todo este tempo escondido, deu lugar ao homem, homem esse que não sou eu.

Aprendi as minhas contradições à custa de alguns dedos apontados, e aprendi a fugir delas, a escondê-las, a ignorá-las, fingindo que não existiam. Eu não quero vê-las.


Não sei se vou ter saudades de ti Coimbra. Sou do tipo de te realizar um funeral digno, fazer o meu luto e seguir em frente, mas esse é o homem. E o menino?


Recordações? Sim, muitas. Um Mondego cheio delas.


Hei-de levar comigo essas manhãs frias de Janeiro, o barulho dos pombos na baixa, as ruas escuras e estreitas, as velhas vizinhas e todas as suas rugas, as flores nas cantareiras e todas as capas negras.


Hei-de levar comigo as árvores despidas da Sá da Bandeira e o beco que me levou tantas vezes ao Diligência, à sangria, os poemas e às cantigas, as monumentais e quem comigo por lá passou.
E se não se importarem vou levar também o cinema Avenida e as minhas lágrimas lá caídas, vou levar o Moelas, os donos podem ficar com eles. Vou levar a Faculdade de Letras e a minha aspiração a ser filósofo.


Os amigos? Não vou precisar de os trazer. Estarão sempre ao meu lado na encruzilhada que há-de ser sempre a minha vida.


Vou levar só mais uma coisa. Vou levar o olhar com que da primeira vez disse: Amo-te!

Sem comentários: